Prefeitura de Manaus realiza roda de conversa sobre violência obstétrica na Maternidade Moura Tapajóz

Prefeitura de Manaus realiza roda de conversa sobre violência obstétrica na Maternidade Moura Tapajóz

Publicações recentes têm demonstrado que muitas mulheres no mundo sofrem maus-tratos, desrespeitos, abusos ou mesmo violência durante a gestação, o parto e o puerpério (período pós-parto) por parte dos profissionais de saúde. No Brasil, segundo a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), estudos hospitalares realizados em 2011 e 2015 demonstraram que a prevalência nesses casos chegou a 44,3%. Com base nesses dados, a Maternidade Dr. Moura Tapajóz (MMT), da Prefeitura de Manaus, realizou, nesta quarta-feira, 23/3, às 9h, uma roda de conversa com os servidores sobre o tema “Violência obstétrica e suas implicações legais”.

O evento aconteceu em parceria com o Comitê Estadual de Enfrentamento à Violência Obstétrica e com a Organização Não Governamental Humaniza Coletivo Feminista, grupo que luta pela erradicação da violência obstétrica e por um atendimento digno e com respeito às mulheres nas maternidades de Manaus. A roda de conversa foi mediada pelas advogadas do Humaniza, Alessandrine Silva e Natália Demes.

A coordenadora jurídica do Coletivo Humaniza, Natália Demes, destacou que é importante ter consciência de que qualquer prática que desrespeite a vontade e a autonomia da mulher é considerada violência obstétrica.

“Existem casos extremos de violência física, como tapas, empurrões e abuso sexual, mas também existem as violências que são muito mais sutis, tanto físicas quanto psicológicas e institucionais, como, por exemplo, quando não se informa à mulher o que vai acontecer com ela em seguida, quando se faz um toque sem avisar ou explicar o porquê, ou quando o profissional ignora suas queixas e suas dores”, explicou a advogada.

Segundo Alessandrine Silva, é necessário que todos os servidores da maternidade tenham conhecimento do que é violência obstétrica, do que fazer quando acontece um caso dentro da unidade, como intervir, e da dimensão do impacto desse tipo de violência na vida das mulheres e de suas famílias.

“A violência obstétrica pode ser praticada por qualquer profissional que trabalhe na unidade de saúde, dos médicos e enfermeiros aos auxiliares de serviços gerais e assistentes administrativos, por exemplo”, esclareceu Alessandrine.

Além da roda de conversa, a Maternidade Doutor Moura Tapajóz também recebeu a doação de uma unidade de banqueta para auxiliar na assistência ao parto normal de cócoras, tecnologia que facilita o trabalho de parto e diminui as intervenções cirúrgicas.

“Estudos comprovam que a banqueta, apesar de ser uma tecnologia simples, leve e barata, tem um impacto enorme no desfecho do trabalho de parto, reduzindo as intervenções médicas, o uso de medicamentos e o alto índice de procura pelo parto cesariano, que é uma cirurgia de médio porte que pode apresentar complicações muito mais frequentemente do que o parto normal”, explicou o gerente de enfermagem da MMT, enfermeiro obstetra Everton de Freitas Gomes.

A enfermeira obstetra Núbia Cruz, diretora da MMT, ressalta que a Maternidade Doutor Moura Tapajóz trabalha incansavelmente para que, tanto o momento do parto quanto os momentos que antecedem e que sucedem o procedimento, sejam especiais para as mulheres.

“É imprescindível, portanto, que todos os nossos servidores, desde a recepção, passando pela equipe multidisciplinar da sala de parto até os profissionais da alta hospitalar, tenham consciência de sua responsabilidade nesse processo”, observou.

“Na Moura Tapajóz, seguimos um protocolo de parto e nascimento, mas não é apenas sobre seguir o protocolo. É sobre saber acolher, atender de forma humanizada. Disseminar informação sobre violência obstétrica torna, tanto nossas clientes e suas famílias mais informadas sobre seus direitos quanto nossos profissionais mais cientes de seus deveres”, concluiu a diretora.

Norma jurídica

A Lei Estadual 4.848/2019, do Estado do Amazonas, define violência obstétrica como "apropriação do corpo e dos processos reprodutivos das mulheres, através do tratamento desumanizado, abuso de medicalização e patologização dos processos naturais, que cause a perda da autonomia e a capacidade das mulheres de decidir livremente sobre seus corpos e sua sexualidade, impactando negativamente na qualidade de vida das mulheres durante o pré-natal, parto, puerpério ou em abortamento, que cause dor, dano ou sofrimento desnecessário à mulher praticada por membros que pertençam à equipe de saúde, ou não, sem o seu consentimento explícito ou em desrespeito a autonomia".

Fotos:Divulgação / Semsa

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