Ditadura do duplo padrão: como Hugo Motta transforma a Câmara em tribunal de exceção

Ditadura do duplo padrão: como Hugo Motta transforma a Câmara em tribunal de exceção

Presidente da Casa age com seletividade política, persegue parlamentares da base governista  e protege golpistas da extrema direita


Por Redação | Amazônia Realidade

Brasília(DF) - Uma cena emblemática da degradação democrática na Câmara dos Deputados: policiais legislativos arrastam o deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) de sua cadeira, sob os olhares perplexos de colegas parlamentares. A imprensa, impedida de registrar o momento, é violentamente removida do plenário. O crime do parlamentar? Ousar protestar contra a cassação de seu mandato, marcada para votação nesta quarta-feira (10).

Enquanto isso, do outro lado do espectro político, deputados da extrema direita acusados de crimes gravíssimos — incluindo participação em tentativa de golpe de Estado — recebem tratamento cordial, prazos estendidos e até a permissão para votar à distância de condomínios de luxo na Flórida.

Esta é a Câmara dos Deputados sob o comando de Hugo Motta (Republicanos-PB): um espaço onde o critério de julgamento não é a gravidade dos fatos, mas a orientação política do acusado.

O duplo padrão institucionalizado

O discurso de Glauber Braga após ser removido à força do plenário revela a essência do problema: "A única coisa que eu pedi ao presidente da Câmara, Hugo Motta, foi que ele tivesse 1% do tratamento que teve com aqueles que sequestraram a Mesa Diretora por 48 horas".

O parlamentar se refere a episódios recentes em que deputados bolsonaristas ocuparam a mesa diretora por dois dias, em claro ato de obstrução ao funcionamento da Casa. Na ocasião, não houve polícia legislativa, não houve remoção forçada, não houve corte de transmissão. Houve diálogo e tolerância.

Já para Glauber — que responde por empurrar um militante do MBL após ofensas à memória de sua mãe falecida — a receita foi diferente: força bruta, censura à imprensa e cassação em ritmo acelerado.

A seletividade como método

A estratégia de Hugo Motta se revela na forma como organiza a pauta de julgamentos:

Casos tratados com urgência e rigor:

· Glauber Braga (PSOL-RJ): por empurrão após ofensa pessoal

· Processo marcado para quarta-feira (10)

Casos tratados com morosidade e benevolência:

· Carla Zambelli (PL-SP): condenada pelo STF a 10 anos por invasão de sistema e falsidade ideológica

· Postergação há cinco meses da cassação determinada pelo Supremo

· Atualmente presa na Itália

· Alexandre Ramagem (PL-RJ): condenado a 16 anos por participação em tentativa de golpe

· Fugiu para os Estados Unidos durante julgamento

· Vota à distância de condomínio de luxo na Flórida

· Processo só será analisado "na semana que vem"

· Eduardo Bolsonaro (PL-SP): ultrapassou limite de faltas permitido

· Nos EUA desde março, custando R$ 1 milhão em assessores

· Situação ainda "será analisada" pela Mesa

A tentativa de falsear equivalências

O aspecto mais perverso da estratégia motteana é colocar "no mesmo pacote" infrações de naturezas radicalmente distintas. Ao marcar a votação de Glauber no mesmo dia em que se discute Zambelli, cria-se uma falsa simetria entre:

· Um ato reativo de um parlamentar após ofensa à memória de sua mãe falecida

· Crimes graves contra a democracia e o Estado de Direito

Como o próprio Glauber destacou: "Essa ofensiva é uma anistia aos golpistas, com a manutenção dos direitos políticos daqueles que, esses sim, fizeram de tudo para restringir a liberdade democrática no Brasil".

O silenciamento como projeto

A remoção da imprensa do plenário durante o protesto de Glauber não foi acidental. Foi parte de um padrão: o corte do sinal da TV Câmara para impedir a transparência, a agressão a repórteres, o cerceamento ao trabalho jornalístico.

"Até hoje não tinha ouvido falar em cortarem o sinal da TV Câmara para impedir que as pessoas acompanhassem o que estava acontecendo dentro do plenário", denunciou o deputado.

É a mesma lógica que rege a perseguição seletiva: o que não convém ao projeto de poder deve ser escondido, silenciado, removido.

O abuso de autoridade institucionalizada

Hugo Motta não age sozinho, mas sua presidência normalizou práticas que deveriam ser inconcebíveis em uma democracia:

1. Tratamento diferenciado por orientação política

2. Perseguição a parlamentares governistas

3. Proteção a golpistas condenados

4. Censura à imprensa

5. Uso seletivo da força policial legislativa

O resultado é uma Câmara que, em vez de representar a pluralidade brasileira, tornou-se espaço de vingança política e blindagem a criminosos de colarinho branco da extrema direita.

O Brasil que resiste

Apesar da máquina de perseguição, vozes como a de Glauber Braga seguem ecoando: "A minha presença na cadeira da presidência foi para demonstrar que a gente não pode se render".

Enquanto Hugo Motta transforma a Câmara em tribunal de exceção, a sociedade brasileira assiste — agora pelas redes sociais, já que a imprensa foi expulsa — ao espetáculo mórbido de uma democracia sob ataque interno.

A pergunta que fica é: até quando a instituição que deveria representar o povo brasileiro continuará sendo comandada por quem a usa como instrumento de perseguição política e proteção a golpistas?

Uma coisa é certa: a história registrará Hugo Motta não como presidente da Câmara, mas como o carrasco da democracia parlamentar brasileira.

Fonte: Folhapress

Fotos: Reprodução/Redes Sociais

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