Chegada ocorre em meio a tensões com os EUA e pode reduzir custos para lojistas e consumidores
A maior operadora de cartões do mundo, a chinesa UnionPay, está prestes a desembarcar no mercado brasileiro. A previsão é que a entrada ocorra ainda em 2025, segundo informações do site GGN. O movimento acontece em um momento delicado nas relações entre Brasil e Estados Unidos, especialmente após sanções impostas ao ministro Alexandre de Moraes, do STF, que foi proibido de manter vínculos com instituições financeiras norte-americanas — o que pode atingir diretamente o uso de cartões Visa, Mastercard e Amex.
A chegada da UnionPay tem o potencial de mudar o jogo no sistema financeiro nacional. Para Rosângela Vieira, economista do Dieese, a novidade pode forçar as atuais operadoras a repensarem suas taxas e tarifas. “Com mais concorrência nos meios de pagamento, bancos e bandeiras tradicionais poderão ser pressionados a reduzir os custos do crédito, como os juros do rotativo do cartão”, explicou.
A entrada da operadora asiática se dará por meio da fintech brasileira Left (Liberdade Econômica em Fintech), que será responsável pela emissão dos cartões e pela integração com maquininhas, bancos e sistemas de pagamento locais. A função crédito, no entanto, só deve ser disponibilizada ao público no final de 2025.
Embora já atue no país como administradora de cartões, a UnionPay ainda não aparece como instituição autorizada oficialmente pelo Banco Central, nem como correspondente bancário. Ainda assim, seus planos incluem a adesão ao CIPS (Cross-Border Interbank Payment System), o sistema chinês de compensação bancária internacional criado como alternativa ao SWIFT — dominado pelos EUA e Reino Unido.
Para Neiva Ribeiro, presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, o avanço do CIPS em território nacional pode fortalecer a infraestrutura financeira dos países do BRICS e incentivar uma maior cooperação econômica entre seus membros. “Mas será necessário avaliar com cautela como a UnionPay se integrará ao nosso sistema financeiro, respeitando a legislação e garantindo condições dignas de trabalho”, alertou. A dirigente também vê na novidade uma possibilidade concreta de geração de empregos, especialmente para profissionais oriundos do setor bancário.
A disputa por espaço entre as operadoras será ainda mais acirrada com a chegada do Pix Parcelado, funcionalidade prevista para setembro de 2025. A ferramenta, desenvolvida pelo Banco Central do Brasil, permitirá que o cliente parcele uma compra via Pix, enquanto o lojista recebe o valor integral na hora.
“O Pix Parcelado tem potencial para ampliar o acesso ao crédito e fortalecer o uso do Pix no varejo, inclusive para quem não possui cartão ou histórico bancário consolidado”, explica o BC. A nova ferramenta poderá ser utilizada tanto em compras quanto em transferências, o que amplia ainda mais sua competitividade frente às bandeiras internacionais.
Enquanto isso, do outro lado do hemisfério, Donald Trump já sinaliza preocupação com o avanço tecnológico e comercial do Brasil. Na recente Ordem Executiva que impôs tarifas de 50% sobre alguns produtos brasileiros, o ex-presidente norte-americano mencionou diretamente os meios de pagamento como fator estratégico.
Fundada em 2002, com sede em Xangai, a UnionPay é hoje a principal bandeira de cartões da China e atua globalmente oferecendo serviços de pagamento em mais de 180 países.
A entrada da gigante asiática no Brasil não é apenas uma nova opção no bolso do consumidor: é também um símbolo da reorganização das forças no tabuleiro financeiro global.
Fonte: Monitor Mercantil
Foto: Jefferson Rudy/Agênica Senado
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