O tráfico nas sombras da fé: prisão em Manaus revela elo com fenômeno semelhante em igrejas do Rio

O tráfico nas sombras da fé: prisão em Manaus revela elo com fenômeno semelhante em igrejas do Rio

Manaus (AM) - A recente Operação Sudário, deflagrada pela Polícia Civil do Amazonas no bairro Zumbi dos Palmares, zona Leste da capital, expôs mais uma faceta preocupante da expansão do tráfico de drogas: a infiltração silenciosa em comunidades de fé. Dois homens foram presos em flagrante com 138 quilos de maconha escondidos em caixas de papelão, entre eles Daniel da Silva Sansereth, de 45 anos, um conhecido frequentador de uma igreja evangélica local. A prisão, no entanto, foi contestada por familiares e vizinhos, que afirmam que Daniel estaria apenas ajudando no transporte da carga, sem saber de seu conteúdo ilícito.



A alegação da família de Daniel de que ele é um homem íntegro, pai solteiro, voluntário na igreja e com ficha limpa reacende um debate que já é pauta em outras regiões do país: a relação entre o tráfico e o ambiente religioso. No Rio de Janeiro, por exemplo, nos últimos anos têm crescido os relatos sobre a atuação de facções criminosas que utilizam igrejas protestantes como fachadas para lavar dinheiro, cooptar fiéis e disfarçar atividades ilícitas sob o manto da fé.

O fenômeno nas igrejas protestantes do Rio de Janeiro

Investigações conduzidas por órgãos de segurança pública e pelo Ministério Público do Rio revelaram que líderes de algumas igrejas evangélicas em comunidades dominadas por traficantes mantêm laços estreitos com facções criminosas. O fenômeno é complexo: em muitos casos, o traficante se torna pastor ou financia igrejas para ganhar legitimidade social e refinar sua imagem pública. Em outros, o espaço religioso é usado para lavar dinheiro da venda de drogas, promover “disciplinas” impostas pelo tráfico e controlar a população local por meio do discurso religioso.


Há ainda casos em que criminosos arrependidos assumem ministérios, mas continuam atuando em paralelo com o crime, em uma fusão entre salvação espiritual e dominação territorial. Essa realidade já foi retratada por documentários, reportagens e trabalhos acadêmicos que apontam para a chamada “teologia do poder paralelo”.

Manaus pode estar diante de uma nova fronteira desse fenômeno?

A prisão de Daniel, um homem aparentemente ligado à comunidade religiosa e alheio à criminalidade, pode ser apenas mais um caso de injustiça ou um sinal de alerta. Independentemente da culpa ou inocência do acusado, o episódio revela a urgência de olhar com mais atenção para o uso de igrejas como espaços de influência, proteção ou instrumentalização pelo tráfico em Manaus, fenômeno que já se mostrou real em estados como o Rio.

É preciso cautela para não generalizar nem criminalizar as igrejas sérias e os religiosos comprometidos com ações sociais. No entanto, quando a fé se torna um escudo para atividades ilícitas, o debate precisa emergir. A polícia e o Ministério Público têm o dever de investigar com isenção, mas a sociedade também precisa refletir sobre como o crime se adapta e se infiltra até mesmo nos espaços mais sagrados.

Enquanto a justiça analisa o caso de Daniel Sansereth, a pergunta que fica é: quantas caixas de papelão mais estão sendo carregadas entre a fé e o crime?

Veja o vídeo:


Fotos e vídeos: Divulgação

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