Enquanto 36 milhões de brasileiros sofrem com escala 6x1, Parlamento se debruça sobre redução de penas para condenados do 8 de janeiro
Por Redação | Amazônia Realidade
Brasília (DF) - Uma perversa inversão de valores domina o Congresso Nacional em 2025. Enquanto projetos que beneficiam os mais pobres — como o fim da exaustiva escala 6x1 — mofam nas gavetas, deputados e senadores aceleram a votação de uma matéria que interessa apenas a uma elite política condenada: a anistia para os golpistas do 8 de janeiro.
A cena é emblemática: Hugo Motta (Republicanos-PB), presidente da Câmara, anuncia com pompa que vai "limpar a pauta" antes do ano eleitoral. No entanto, sua limpeza seletiva varre para debaixo do tapete os direitos dos trabalhadores, dos indígenas, dos quilombolas, e varre para o centro do plenário apenas o que interessa ao bolsonarismo e ao Centrão.
A "limpeza" que só limpa a consciência dos ricos
O discurso de Hugo Motta é um estudo de caso em cinismo político: "Vamos limpar a pauta! As eternas discussões não favorecem o andamento da pauta do Congresso". A pergunta que não cala: quais eternas discussões?
Seriam as eternas discussões sobre:
· Fim da escala 6x1 — parada desde 2023
· Marco temporal indígena — aprovado às pressas contra o STF
· Direitos quilombolas — esquecidos nos arquivos
· Meio ambiente — sucateado em favor do agronegócio
Não. A "eterna discussão" que incomoda Motta é justamente aquela sobre punição aos que tentaram destruir a democracia. A solução? Reduzir suas penas, rebatizando o projeto como "dosimetria" — eufemismo para anistia disfarçada.
A pauta dos privilégios vs. a pauta do povo
Vejamos o que avança e o que emperra no Congresso:
AVANÇA RAPIDAMENTE:
· Anistia para golpistas condenados pelo STF
· Marco temporal contra indígenas
· Privilégios para setores econômicos poderosos
EMPACADO HÁ ANOS:
· Fim da escala 6x1 (36 milhões de trabalhadores afetados)
· Aumento real do salário mínimo
· Titulação de terras quilombolas
· Proteção ambiental efetiva
· Reforma tributária progressiva
O padrão é claro: o que beneficia ricos e poderosos corre; o que beneficia pobres e vulneráveis fica. O Congresso que temos não é neutro — é ativamente hostil aos interesses da maioria da população.
A fissura exposta: quando até o Senado estranha
A precipitação de Hugo Motta foi tanta que até mesmo o Senado — Casa notoriamente conservadora — estranhou. Senadores de diferentes bancadas afirmam, sob reserva, que o texto "dificilmente prosperará". Renan Calheiros foi direto: "O Senado não pode e não deve votar redução de pena para golpistas!"
Mas a resistência senatorial não vem de virtude democrática. Vem do cálculo político frio: eleições municipais se aproximam, e reabrir feridas do 8 de janeiro é risco desnecessário. A anistia aos golpistas pode esperar; as prefeituras, não.
O verdadeiro projeto de poder
O timing não é acidental. Como revela a reportagem, a movimentação coincide com o anúncio da pré-candidatura de Flávio Bolsonaro à presidência em 2026. A anistia do pai seria "um dos elementos centrais para seu projeto eleitoral".
Aqui reside o cerne da questão: não se trata de justiça, de dosimetria, de "limpeza de pauta". Trata-se de projeto de poder. A anistia aos golpistas é moeda de troca política, capital eleitoral, sinalização para bases radicalizadas.
Enquanto isso, o trabalhador que labuta 6 dias por 1 de descanso? Que espere. O indígena ameaçado de expulsão de sua terra ancestral? Que espere. O quilombola sem titulação? Que espere.
O Congresso inimigo do povo
Os números não mentem:
· 12 projetos sobre anistia/golpistas em tramitação prioritária
· 0 projetos sobre fim da escala 6x1 com avanço significativo
· R$ 1 bilhão em emendas para aliados do governo
· R$ 0 em aumento real para programas sociais essenciais
Este é o Congresso de 2025: um espaço onde a prioridade é salvar políticos condenados, não cidadãos condenados à pobreza. Onde "limpar a pauta" significa varrer os direitos do povo para debaixo do tapete, enquanto se estende o tapete vermelho para golpistas.
A resistência que vem das ruas
Mas há esperança. Ela não vem do plenário, vem das ruas. Vem dos sindicatos que pressionam pelo fim da escala 6x1. Dos movimentos indígenas que ocupam Brasília. Dos quilombolas que resistem há séculos. Dos trabalhadores que, cansados de esperar por um Congresso que nunca vem, começam a entender que mudança real exigirá pressão real.
O recado é claro: enquanto o Congresso priorizar anistia a golpistas sobre direitos do povo, ele se confirmará não como representante da nação, mas como inimigo do povo brasileiro. E inimigos do povo, como ensina a história, não duram para sempre.

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