Mobilização nacional expõe a força popular contra manobras que ameaçam a democracia
Por Redação | Amazônia Realidade
Neste domingo (14), o Brasil volta a ser palco de grandes mobilizações populares. Em capitais e cidades do interior, milhares de pessoas ocupam ruas e praças para denunciar o que movimentos sociais classificam como uma escalada de abusos do Congresso Nacional contra a democracia e os interesses do povo. A recente aprovação do chamado Projeto de Lei da Dosimetria, em votação realizada na madrugada da última quarta-feira (10), foi o estopim de uma indignação que vem se acumulando diante de decisões vistas como desconectadas da vontade popular.
A insatisfação, no entanto, vai além desse projeto. Pesam na convocação dos atos a aprovação do PL da Devastação, a consolidação do marco temporal contra os povos indígenas e a manutenção do mandato da deputada Carla Zambelli. Sob o lema “Sem anistia para golpistas”, as frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo articulam manifestações em todo o país, reafirmando que a democracia não se defende apenas nos gabinetes, mas sobretudo nas ruas.
A nova jornada de lutas acontece poucos dias após os atos do levante Mulheres Vivas, que mobilizaram milhares de pessoas contra a violência de gênero e o feminicídio. Para os organizadores, a sequência de manifestações expressa uma retomada consciente da mobilização popular como resposta direta ao Congresso Nacional, especialmente diante das tentativas de reduzir penas de envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro, entre eles o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Camila Moraes, da coordenação nacional do Levante Popular da Juventude e secretária-geral da UNE, afirma que a presença do povo nas ruas é decisiva para barrar retrocessos. Segundo ela, experiências recentes mostram que somente a pressão popular foi capaz de impedir a aprovação de propostas lesivas à democracia. “Se o Congresso insiste em legislar contra o povo, o povo precisa responder com mais organização e mobilização”, defende.
Na mesma linha, Ana Carolina Vasconcelos, da coordenação nacional do Movimento Brasil Popular, avalia que os atos também funcionam como um alerta para o próximo período político. Para ela, a população acompanha atentamente as manobras do Legislativo e rejeita a condução autoritária imposta pela extrema direita e pelo Centrão. “A organização popular será central para enfrentar o avanço do neoliberalismo e construir alternativas reais para 2026”, afirma.
Representantes do movimento sindical também reforçam o tom de denúncia. Milton Rezende, o Miltinho, da Central Única dos Trabalhadores (CUT), classifica as articulações no Congresso como uma tentativa de continuidade do golpe por vias parlamentares. Para ele, enquanto se busca anistiar golpistas, pautas urgentes para a vida da população — como a redução da jornada de trabalho e o fim da escala 6×1 — seguem sendo ignoradas.
O que está em jogo no PL da Dosimetria
Aprovado às 2h26 da madrugada de quarta-feira (10), o PL da Dosimetria obteve 291 votos favoráveis, 148 contrários e uma abstenção. De autoria do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e relatado por Paulinho da Força (Solidariedade-SP), o texto altera profundamente as regras de cálculo das penas para crimes como golpe de Estado e abolição violenta do Estado Democrático de Direito.
Na prática, a proposta impede o acúmulo de penas para crimes correlatos e flexibiliza a progressão de regime, permitindo que ela ocorra após o cumprimento de apenas um sexto da pena em regime fechado. Especialistas apontam que a medida pode beneficiar diretamente condenados pelos atos de 8 de janeiro. Embora seus defensores neguem qualquer caráter de anistia, juristas, parlamentares de oposição e movimentos sociais veem no projeto uma manobra explícita para esvaziar a responsabilização dos golpistas.
A forma como a votação ocorreu também gerou forte reação. Houve denúncias de repressão dentro do plenário, retirada forçada de parlamentares e até o corte do sinal da TV Câmara, episódio considerado grave e simbólico do distanciamento entre o Congresso e a sociedade. Para os movimentos populares, esses fatos reforçam a necessidade de levar o debate para as ruas.
O texto agora segue para o Senado, onde o presidente da Casa, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), já sinalizou a possibilidade de acelerar a tramitação. Diante desse cenário, os atos do dia 14 buscam pressionar o Legislativo e reafirmar que a soberania popular não pode ser atropelada por acordos de madrugada.
Atos confirmados neste domingo (14)
(Mantém-se a lista completa de cidades e horários dos atos em todas as regiões do país, reforçando o caráter nacional e descentralizado da mobilização.)
Para os organizadores, a mensagem é clara: quando o Congresso atua contra o povo, o povo responde ocupando as ruas e defendendo a democracia com a própria voz.
Foto: Camila Boehm/Agência Brasil

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