Maior ação policial da história recente do país provoca indignação, mobiliza o Supremo Tribunal Federal e reacende o debate sobre a violência de Estado nas comunidades cariocas
Por Redação | Amazônia Realidade
A megaoperação policial deflagrada nos complexos da Penha e do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro, deixou pelo menos 132 mortos e mais de 110 pessoas presas, segundo levantamento da Defensoria Pública do Estado.
A ação, considerada a mais letal da história do estado, envolveu cerca de 2.500 agentes das forças de segurança estaduais e mobilizou helicópteros e veículos blindados em áreas densamente povoadas.
Batizada de “Tropa de Choque”, a operação tinha como alvo a facção criminosa Comando Vermelho, que disputa o controle de territórios nas comunidades.
De acordo com informações da Polícia Civil e da Polícia Militar, foram apreendidos fuzis, pistolas, drogas e veículos, mas o elevado número de mortos gerou comoção nacional e repercussão internacional.
“A cena é de guerra. Corpos foram deixados nas ruas e as famílias vivem em pânico”, relatou um morador da Penha à imprensa local.
STF exige explicações em 48 horas
Diante da repercussão e das denúncias de execuções sumárias, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou que a Polícia Federal (PF), a Advocacia-Geral da União (AGU) e a Secretaria de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro (SSP-RJ) apresentem, no prazo de 48 horas, um relatório detalhado sobre a operação.
O documento deve esclarecer se houve participação de agentes federais, além de descrever objetivos, estratégias, autorizações e circunstâncias das mortes.
O pedido foi feito no âmbito do Inquérito das Milícias, que investiga a expansão desses grupos paramilitares em territórios dominados pelo tráfico.
A decisão de Moraes atendeu a uma ação apresentada pelo PSB, que classificou a operação como “um verdadeiro massacre”. O partido citou o precedente da ADPF 635, decisão do STF que fixou regras permanentes para operações policiais em favelas, exigindo planejamento, comunicação prévia ao Ministério Público e preservação de vidas civis.
Números da operação
De acordo com os dados mais recentes da Defensoria Pública e de veículos internacionais como Reuters e Associated Press:
132 mortos (número ainda sujeito a atualização)
113 presos
Toneladas de drogas apreendidas
Esses números superam amplamente os das operações anteriores, incluindo as de Jacarezinho (2021) e Vila Cruzeiro (2022), ambas marcadas por alto índice de letalidade policial.
Reação nacional e internacional
Organizações de direitos humanos, como a Anistia Internacional e a Human Rights Watch, emitiram notas de repúdio, pedindo investigação independente e responsabilização das autoridades.
A Comissão de Direitos Humanos da OAB também se manifestou, afirmando que o caso “pode configurar grave violação de direitos fundamentais e execução extrajudicial”.
Em nota preliminar, o governo do estado do Rio de Janeiro afirmou que a operação teve como objetivo “garantir o cumprimento da lei e restaurar a ordem em áreas dominadas pelo tráfico”, negando que tenha havido excessos.
Análise: a violência como política pública
Especialistas apontam que o episódio é o retrato de uma política de segurança pública baseada na força e na ocupação militar de territórios, em vez de estratégias de inteligência e prevenção.
“O Estado brasileiro precisa decidir se quer proteger vidas ou apenas contar corpos”, afirmou o sociólogo Luiz Eduardo Soares, ex-secretário nacional de Segurança Pública.
O STF, ao exigir informações imediatas, busca impor transparência e controle judicial sobre ações que historicamente se repetem nas periferias do país, atingindo majoritariamente jovens negros e pobres.
Entenda o contexto
Em 2021, 28 pessoas foram mortas no Jacarezinho. Em 2022, 25 morreram na Vila Cruzeiro. Já na operação deste ano, foram contabilizadas 132 mortes durante a ação das forças de segurança do Rio de Janeiro, no Complexo da Penha/Alemão, segundo a Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, em 29 de outubro de 2025.
O que falta esclarecer?
O papel exato de agentes federais na operação;
O critério de uso da força letal e se houve resistência armada;
A identificação das vítimas e o número de civis entre os mortos;
O cumprimento das regras da ADPF 635;
A responsabilidade por eventuais abusos e execuções.
Um espelho da violência estrutural
Com mais de uma centena de mortos em apenas 48 horas, a megaoperação reacende o debate sobre a militarização das favelas e o papel do Estado na perpetuação da violência.
O Supremo, ao intervir, tenta estabelecer um marco de responsabilização e garantir que a força policial atue sob o controle da lei — e não acima dela.
Fonte: Anistia Internacional
Fotos: Divulgação
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