Ao tentar inocentar Paulo Sérgio Nogueira, a defesa do ex-ministro da Defesa detalhou a engrenagem da conspiração e apontou o ex-presidente como o único e insistente articulador de uma medida de exceção
Por Redação | Amazônia Realidade
A estratégia de defesa do general da reserva Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa de Jair Bolsonaro, no Supremo Tribunal Federal (STF) teve um efeito devastadorador: em vez de absolver o ex-presidente, jogou-o definitivamente na fogueira da trama golpista. Em sua sustentação oral, o advogado Andrew Farias, ao tentear livrar seu cliente de qualquer culpa, admitiu a existência de um plano para romper a ordem democrática e isolou Bolsonaro como seu idealizador e principal condutor.
O momento crucial ocorreu no diálogo com a ministra Cármen Lúcia. Farias afirmou que Paulo Sérgio Nogueira atuou para “demover [Bolsonaro] de adotar qualquer medida de exceção”. Sob insistência da ministra, a resposta foi categórica: “O general tentou convencer o presidente a não tomar medidas fora da Constituição”. Essa admissão, feita em plenário, é a chave de todo o processo: ao pintar o general como voz da moderação, a defesa confessa que havia, de fato, um presidente da República cogitando concretamente a ruptura do Estado Democrático de Direito.
Confira os pontos que incriminam Bolsonaro:
1. O prazo que expõe a mentira do Planalto Para defender Nogueira da acusação de atrasar os relatórios eleitorais,Farias foi claro: o prazo final (deadline) era 5 de fevereiro de 2023, mas a entrega foi feita em 9 de novembro de 2022. “Dentro do prazo”, destacou. A explicação, no entanto, é um tiro no pé de Bolsonaro: se a Defesa cumpriu o cronograma técnico, a narrativa de fraude e a utilização política dos documentos foram uma fabricação exclusiva do Palácio do Planalto, sob comando do ex-presidente.
2. A pressão sobre os militares é confirmada Ao negar que houve pressão sobre os comandantes militares,citando o depoimento do general Freire Gomes, a defesa acaba por confirmar a ocorrência do crítico encontro de 14 de dezembro. A necessidade de negar a pressão só existe porque a pressão foi real e partiu de Bolsonaro. A defesa não nega o episódio, apenas tenta ressignificá-lo, o que reforça o ambiente de conspiração.
3. O discurso da pacificação que delata a intenção golpista Um dos momentos mais reveladores foi a confissão de que o general Nogueira,por meio de Mauro Cid, entregou a Bolsonaro um “rascunho de discurso de pacificação”. A estratégia da defesa era mostrar seu cliente como pacificador, mas o subtexto é inescapável: só se apresenta um discurso apaziguador a um presidente que estava publicamente inflamando seus apoiadores e, em privado, cogitando dar um golpe. A existência do rascunho é a prova material de que o clima de ruptura era tão extremo que demandou uma intervenção dos militares para contê-lo.
Bolsonaro, o protagonista isolado
A sustentação de Andrew Farias não desmonta a tese do golpe; ela a consolida a partir de dentro. A defesa reconhece todos os elementos-chave: reuniões tensas, documentos usados como armas políticas e um presidente que precisava ser “dissuadido” da ilegalidade. A repetida frase “não foi o general” tem como eco inevitável “foi o presidente”.
O saldo final do julgamento é cristalino. A defesa do ex-ministro da Defesa transformou-se no mais contundente libelo acusatório contra Jair Bolsonaro. Ao detalhar os esforços para demovê-lo do golpe, confessou que o golpe era seu projeto pessoal e insistente. Bolsonaro é deixado pela defesa completamente isolado na teia golpista, retratado como a única voz que, mesmo cercado por alertas e advertências de seus próprios comandantes, seguiu obstinado em rumo à ruptura da democracia.
Fonte: TV Justiça/STF
Postar um comentário