Setor responsável por quase 25% do PIB nacional e por 48% das exportações para os EUA sente no bolso os efeitos da nova política protecionista americana. Café, frutas tropicais e carne bovina estão entre os produtos mais afetados.
Por Redação Amazônia Realidade
O agronegócio brasileiro, que foi um dos pilares de apoio e financiamento aos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, agora amarga as consequências geopolíticas de suas escolhas. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reeleito recentemente, impôs uma tarifa de 50% sobre uma série de produtos brasileiros, atingindo diretamente setores como pecuária de corte, café e frutas tropicais — justamente os que mais lucraram com as exportações para o mercado americano nos últimos anos.
A medida foi justificada pela Casa Branca como uma ação para "proteger a economia interna", mas tem sido vista por analistas como uma resposta política às posições do Brasil nos últimos tempos. Com isso, o agronegócio sofre um revés bilionário, perdendo espaço num dos maiores mercados consumidores do planeta.
Prejuízo calculado
De janeiro a novembro de 2024, o agronegócio brasileiro exportou US$ 152,63 bilhões, o equivalente a quase 49% de tudo o que o Brasil vendeu para o exterior no período. Trata-se do segundo melhor resultado da série histórica, segundo dados do Ministério da Agricultura. Mesmo com a queda de 5,2% nos preços internacionais, o setor conseguiu manter o fôlego graças a um aumento de 5,2% no volume exportado.
Os destaques foram os tradicionais complexo da soja (US$ 52,19 bilhões), carnes (US$ 23,93 bilhões) e o complexo sucroalcooleiro (US$ 18,27 bilhões), que juntos responderam por mais de 60% das exportações do agro. Apesar de uma forte retração nos preços da soja (-18,7%), o setor manteve protagonismo. Já carnes e açúcar registraram crescimento expressivo, impulsionados por embarques recordes e pela diversificação de mercados consumidores.
Agora, com o tarifaço imposto pelos EUA, os produtores brasileiros veem sua principal vitrine internacional em risco. Só para os Estados Unidos, as exportações agropecuárias somaram mais de US$ 10 bilhões em 2024, com destaque para a carne bovina, o café e frutas como manga, melão, limão e açaí — todos agora duramente atingidos pelas novas tarifas.
Um "tiro no pé"
Após se posicionar politicamente ao lado de grupos extremistas e figuras do negacionismo, parte significativa do setor agro, especialmente no Centro-Oeste e no Sul do país, agora vê sua aposta virar contra si. A busca por novos mercados, como o asiático e o árabe, começou às pressas, mas não deve compensar, no curto prazo, as perdas bilionárias com os EUA. Para a economista rural Fabiana Aguiar, o momento exige revisão estratégica:
“O agro brasileiro apoiou um projeto político que desprezou o processo democrático. Agora, paga o preço internacional da instabilidade e da quebra de confiança nas relações com grandes parceiros comerciais.”
Café e frutas tropicais também na mira
Além da carne bovina, o café brasileiro — líder global em exportação — e frutas tropicais como o açaí amazônico sofreram a mesma taxação. Pequenos e médios produtores do Norte e Nordeste já relatam quedas em contratos e recuos de compradores norte-americanos.
No Amazonas, por exemplo, produtores de açaí e guaraná com certificações para exportação veem os estoques crescerem sem destino garantido. “Esse tarifaço dos EUA prejudica principalmente quem estava se formalizando e investindo para vender lá fora”, afirma José Cardoso, presidente de uma cooperativa agroindustrial de Itacoatiara (AM).
Reação no Congresso
Apesar do lobby agro ser um dos mais poderosos no Congresso Nacional, a reação até agora tem sido de silêncio cauteloso. Parlamentares da base ruralista, que antes celebravam a afinidade ideológica com Trump, agora enfrentam críticas internas por não preverem os efeitos de um alinhamento político que se mostrou frágil.
Com um impacto direto nas exportações, no emprego rural e no PIB nacional, o tarifaço imposto pelos Estados Unidos escancara os riscos de misturar política com interesses econômicos. O agro brasileiro, que tentou influenciar a democracia, agora sofre os efeitos do isolamento internacional — uma conta alta que será paga com prejuízo, desemprego e perda de credibilidade.
Fonte: Ministério da Agricultura
Foto: Ilustração
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