Após três anos de insegurança alimentar grave, ONU reconhece que menos de 2,5% da população brasileira vive sob risco de subnutrição. O país reencontra a dignidade à mesa - mas os desafios persistem.
Paulo Paixão | Amazônia Realidade
O Brasil respira aliviado. Com a força de quem já provou o amargo da fome e o sabor da esperança, o país volta a caminhar fora da trilha dos que padecem pela ausência do essencial: o alimento. Segundo o relatório O Estado da Segurança Alimentar e Nutricional no Mundo 2025, apresentado pela Organização das Nações Unidas (ONU) nesta segunda-feira (28/07), o Brasil está, novamente, fora do Mapa da Fome.
É a segunda vez em pouco mais de uma década que o país sai da vergonhosa lista que expõe a dura face da miséria mundial. Se em 2014 celebramos um feito histórico, em 2022 fomos tomados pela sombra do retrocesso. Agora, com base na média de dados entre 2022 e 2024, menos de 2,5% da população está em risco de subnutrição — o limite para estar fora da zona de insegurança alimentar grave.
O anúncio veio da Etiópia, durante a 2ª Cúpula de Sistemas Alimentares da ONU, e carrega mais do que estatísticas: traz consigo o clamor de milhões de famílias que, dia após dia, resistem com dignidade à exclusão social, ao desemprego e ao preço abusivo da comida. No entanto, embora os números apontem um avanço, a realidade ainda desafia.
No Brasil, terra que brota soja, milho, arroz, feijão e esperança, a comida nem sempre chega a todos. Falta dinheiro, falta acesso, sobram distâncias e desigualdades. Especialistas são unânimes: o problema não está na produção, mas na distribuição. O campo exporta, os portos lucram, mas o prato do povo muitas vezes se esvazia.
A agropecuária moderna, que impulsiona o Produto Interno Bruto, nem sempre se volta ao que é interno: o abastecimento das periferias, das aldeias, das comunidades onde o supermercado mais próximo é a floresta ou o barco. E, mesmo onde há comida, muitas vezes ela não é saudável. São os chamados desertos alimentares — territórios de fartura industrial e escassez nutricional.
O mapa pode ter mudado, mas o Brasil continua sendo desafiado a transformar seus indicadores em justiça alimentar. Não basta sair da fome estatística — é preciso entrar na abundância digna, no direito pleno ao alimento saudável, acessível e culturalmente adequado.
Que este novo relatório não seja apenas um respiro, mas um compromisso. Que a mesa farta não seja privilégio, mas política pública. Que a terra que dá não negue. E que o povo que planta também coma.
Porque o Brasil que alimenta o mundo merece alimentar a si mesmo. Todos os dias. Sem exceção.
Foto Lyon Santos/MDS
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