Enquanto respira com a mata, o coração da floresta bate mais forte diante das ameaças que se multiplicam
Paulo Paixão | Amazônia Realidade
Manaus(AM) - Há lugares no mundo que carregam em si a essência do próprio planeta — e a Amazônia é um deles. Berço de biodiversidade, guardiã das águas e da memória ancestral, ela respira com o mundo, mesmo que muitos ainda não saibam disso. Seus rios são veias por onde correm não apenas águas, mas histórias, culturas e promessas de futuro. Mas hoje, como nunca antes, essa pulsação ecoa entre sombras.
De acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), divulgados no início de 2025, o desmatamento na Amazônia Legal apresentou uma redução de cerca de 28% em relação ao ano anterior, marcando o primeiro recuo significativo após anos consecutivos de aumento.
Embora esse sinal positivo seja encorajador, especialistas alertam que os números ainda estão longe do ideal e que a pressão sobre a floresta continua intensa.
Em 2024, foram registrados mais de 12 mil km² de vegetação perdida, um valor alarmante que equivale a quase duas vezes o tamanho do Estado de Sergipe.
O principal motor desse desmatamento permanece a expansão ilegal da fronteira agrícola, impulsionada por grilagem de terra, pecuária não regulamentada e ações coordenadas de madeireiras clandestinas.
Além disso, as queimadas continuam assolando a região. Segundo o Programa Queimadas do IBAMA, mais de 60 mil focos de incêndio foram contabilizados em 2024, especialmente em áreas já desmatadas, onde o fogo é usado como ferramenta para limpeza de terrenos — muitas vezes sem controle, atingindo inclusive matas vizinhas e comunidades ribeirinhas.
A mineração ilegal também persiste como um dos grandes males da Amazônia. Em outubro de 2024, uma operação conjunta entre IBAMA, Polícia Federal e Forças Armadas apreendeu mais de 30 dragas ilegais em Roraima e Pará, responsáveis por contaminar rios com mercúrio e destruir quilômetros de vegetação nativa. Estudos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) mostram que o mercúrio utilizado nessas atividades já afeta mais de 200 mil pessoas indígenas e tradicionais na região, causando danos irreversíveis à saúde e aos ecossistemas aquáticos.
Mesmo diante desses desafios, há quem continue resistindo. Comunidades quilombolas, povos indígenas e jovens ambientalistas têm se articulado cada vez mais para proteger seus territórios. Em 2024, foi lançado o Plano Amazônia Viva, uma iniciativa colaborativa envolvendo governos estaduais, organizações da sociedade civil e grupos locais, com o objetivo de acelerar a restauração de áreas degradadas e fortalecer economias sustentáveis.
“Queremos mostrar que é possível viver bem na floresta sem derrubar uma única árvore”, diz Aline Yara Potiguara, liderança indígena e representante do movimento "Mulheres da Floresta", que reúne centenas de mulheres em projetos agroflorestais e educação ambiental.
A Amazônia não é apenas uma floresta. É um chamado urgente à humanidade. Um convite para que aprendamos a ouvir o vento nas copas das árvores, o murmúrio dos rios e o silêncio pesado de quem perdeu sua casa. Sua conservação não é apenas uma causa ambiental — é uma escolha ética, social e, acima de tudo, existencial.
Proteger a Amazônia é proteger a própria ideia de futuro. E esse futuro começa a ser escrito agora, em cada gesto, política e decisão que reconheça seu valor infinito — não apenas como patrimônio natural, mas como alma da Terra.
Foto: Emerson França
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