Por Paulo Paixão | Portal Amazônia Realidade
Manaus(AM) - Nas redes sociais, um fenômeno inquietante cresce como fogo em palha seca: a febre dos bebês reborn. Bonecos realistas, que imitam com precisão impressionante os traços de recém-nascidos, são tratados como filhos por milhares de adultos mundo afora. Alimentados, vestidos, postos para dormir e até levados ao médico, como se fossem reais.
Essa prática, muitas vezes retratada como um "alívio emocional" ou forma de "preencher o vazio da maternidade", escancara uma contradição dolorosa: enquanto muitos mimam bonecos de vinil ou silicone, segundo dados do Unicef, mais de 150 milhões de crianças em todo o mundo vivem sem o cuidado dos pais — muitas em orfanatos, nas ruas ou sob condições de extrema vulnerabilidade.
No Brasil, o Conselho Nacional de Justiça informa que cerca de 4.400 crianças e adolescentes esperam por adoção, algumas há anos.
Não se trata aqui de julgar quem busca conforto psicológico. Mas é impossível ignorar a ironia de um mundo onde tantos direcionam tempo, dinheiro e afeto a um objeto, enquanto crianças reais pedem socorro em silêncio — carentes de afeto, estrutura, dignidade e sobretudo, humanidade.
Se ao menos parte do amor dispensado aos reborn fosse canalizado para projetos de acolhimento, adoção ou apoio a crianças em situação de risco, o mundo real seria menos carente, menos plástico, mais justo.
A pergunta que fica é: o que nos tornamos, quando passamos a cuidar melhor de bonecos do que de seres humanos de verdade?
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