Por Dário Matos
Careiro (AM) - A Amazônia, um dos maiores tesouros naturais do planeta, é incomparável em biodiversidade e rica em culturas originárias. No entanto, essa floresta pulsante clama por socorro. O chamado capitaloceno — era em que o capitalismo predatório dita os rumos da exploração ambiental — avança com apetite voraz sobre os recursos naturais, provocando mudanças climáticas, devastação e uma crise ecológica sem precedentes. O sistema econômico vigente é, hoje, a principal força motriz por trás das transformações ambientais globais.
Nesse cenário, o ecoturismo de base comunitária desponta como uma alternativa concreta e promissora. Ao minimizar impactos ambientais e valorizar os saberes locais, essa prática promove geração de renda e a conservação da floresta em pé. É um equilíbrio delicado entre ser humano e natureza — algo que nossos ancestrais conheciam bem.
No município de Careiro, localizado no Amazonas, cerca de 45 pousadas já operam com foco no ecoturismo, recebendo mais de 30 mil visitantes por ano. A descoberta dessa vocação tem transformado a forma como os moradores veem a floresta: despertou-se uma nova consciência sobre a importância da preservação ambiental.
Um dos protagonistas dessa mudança é Raimundo Sousa, conhecido como Raimundinho Tucano, operador de turismo e empresário local. Sua trajetória é marcada por lutas e conquistas e reflete os desafios de conciliar sustentabilidade com empreendedorismo.
"A dificuldade aqui era conhecer quem já trabalhava com turismo. Mas eu gostei e pensei: “Posso ter minha própria empresa”. Lutei muito, me esforcei bastante e, graças a Deus, consegui fundar a Pousada Big Fish. Desde então, começamos a preservar. Tudo o que vemos hoje — os animais, a natureza — a gente cuida, não maltrata. Isso foi essencial", relata Raimundinho.
O ecoturismo também tem um importante papel educativo. Guias orientam visitantes sobre a importância da conservação, envolvendo-os em práticas sustentáveis. Todos ganham: a floresta é preservada e a vida das pessoas que dela dependem melhora.
Samir Zen, guia naturalista e operador de turismo, é um entusiasta do ecoturismo. Ele destaca como essa atividade transforma realidades: "O ecoturismo favorece as comunidades. Não dá pra falar em preservação sem falar das pessoas. A família Tucano, por exemplo, já tem isso na cultura: em vez de caçarem, hoje pilotam barcos, aprendem outros idiomas. Temos guias de várias gerações que aprenderam a falar línguas estrangeiras com o turismo. Isso desperta a consciência de que fazemos parte da floresta. E só cuidamos daquilo que amamos. Conhecer para proteger", como sempre digo.
A turista Carolina Gonzales reforça esse sentimento de transformação que o contato com a Amazônia proporciona: "Acho difícil a gente estar num lugar desse, viver uma experiência dessa e não voltar modificado. Eu acho que é muito significativo, é tudo muito grandioso. Acho que a gente dá outra dimensão, assim, do país, do mundo, da vida, da conservação. Principalmente, também, de que isso aqui é o meio de vida de muitas pessoas, muitas comunidades. É muito importante a gente valorizar e preservar. E valorizar, inclusive, como que eles ajudam, como que eles são importantes para a própria preservação", pontuou.
A Prefeitura do Careiro também tem apostado no fortalecimento do setor. Por meio da Secretaria Municipal de Turismo, liderada por Neuzilene Macena, estão sendo promovidos cursos de capacitação em áreas como hotelaria, condução ambiental, culinária regional e inglês aplicado ao turismo.
"É uma região sem desmatamento porque a maioria das pessoas da comunidade trabalha com turismo, como cozinheiras, piloteiros e guias. Já oferecemos cursos de garçom, camareira, gestão em hospedagem. Agora teremos também culinária regional. Durante a alta temporada, que vai de setembro a dezembro, inclusive, falta mão de obra. Trabalhamos também o inglês turístico nas comunidades", explica Neuzilene.
Uma parceria entre o Governo do Estado, a Prefeitura do Careiro e a Secretaria Estadual de Turismo está implementando um projeto de energia solar, beneficiando pousadas e famílias locais. A iniciativa garante uma fonte de energia limpa e confiável, essencial para o conforto dos turistas e a sustentabilidade dos empreendimentos. "A energia solar é fundamental. Aqui, estamos no meio da floresta: ventos fortes, chuvas e quedas de árvores causam muitos apagões. Sem gerador ou placas solares, as pousadas ficam sem energia, o que prejudica muito o atendimento. O turista espera conforto", conclui a secretária.
O ecoturismo de base comunitária mostra, com exemplos reais, que é possível conciliar desenvolvimento, preservação e inclusão social. A floresta vive e resiste por meio daqueles que decidiram protegê-la.
Assista ao vídeo no YouTube:
https://youtu.be/KmYt27ktAWA?si=N9pxCSPum3KkmVWH
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